Antes de continuarmos nosso post de ontem… Hoje Dia das Mães, parabéns as mamães, às que querem ser mãe algum dia e também aquelas que mesmo sem filhos são mães de uma certa forma, de uma amiga talvez.
Estava em Siena, sabia do Palio, tive até aula sobre ele, mas era justamente a época “entre Palios” isso porque o primeiro acontece no dia 02 de julho , eu cheguei dia 16 e o outro é no dia 16 de agosto, e meu curso terminava e eu voltava ao Brasil logo no inicio de agosto, antes do dia 16. Não pude presenciar nenhum deles,uma pena, mas não foi o fim do mundo, presenciei algo que ficará para sempre em minha memória.
Entre os Palios há sempre, todos os dias, festa na cidade, eu as denominei quermesses, porque são bem parecidas com as nossas quermesses mesmo. São durante a noite, normalmente vão até bem tarde da madrugada, não lembro ao certo porque o hotel onde fiquei hospedada ficava com a porta aberta até umas 2h da manhã, então voltava sempre por volta de 1:30h, e além de tudo no dia seguinte minha aula começava às 8 – 9h e não podia correr o risco de ficar com sono e perder a oportunidade de estudar a língua e cultura italianas, ali, na própria Itália.
Cada semana era em uma contrada diferente, podemos compará-las aos nossos bairros, e em cada uma delas uma decoração diferente, sempre com comidas e músicas bem pitorescas. Algumas até com jogos como aquele em que um coelho ou ratinho é posto no meio de uma mesa, com várias casinhas em volta e ganha a pessoa que acerta em qual casinha o bichano vai entrar.
Volta e meia passava nas ruas uma, não sei se posso denominá-la de procissão, mas parecia. Alguns dos habitantes, maioria homens, da contrada que ganhou o primeiro Palio, no início do mês saem em procissão pela cidade segurando suas bandeiras e entoando cantos próprios. Cantos que por sinal me fizeram arrepiar de tão intensos e emotivos. Os visitantes se animam e acabam acompanhando o cortejo.
Em relação às contradas, além das aulas que tivemos sobre o Palio, lembro que no primeiro dia de curso houve uma abertura oficial, onde tudo nos foi apresentado, como era o curso, quanto tempo seria, essas coisas. Lá ao entrarmos no salão que ia ser o evento podíamos escolher um “Farsoleto”, lenço, de uma das contradas. Como minha cor favorita é azul, peguei o que mais tinha a cor em sua estampa. Então a escolhida foi a “Nicchio”, concha. Até então estava feliz com a escolha. Mais tarde percebi que mais que feliz, abracei a contrada, ficou no coração.
Isso aconteceu porque durante as aulas tivemos duas visitas em dois museus de contradas diferentes, uma delas foi justamente a Nicchio. A primeira foi a Chiocciola, caracol, tudo muito bonito e interessante, mas não me cativou. Depois de uns dias fomos ao museu da Nicchio, eu fui achando que ia ser como da outra vez. Me enganei feio!! Foi emocionante entrar naquele local em que a história da contrada estava sendo contada. Vi cada roupa, cada acessório tanto do cavaleiro quanto do cavalo, cada bandeira, cada prêmio, cada coração, emoção e pessoas por de trás daquele encanto. Me encantei. Se eu morasse lá, seria Nicchio com certeza, mesmo aqui no Brasil, quando vejo o Palio pela televisão, é para ele que torço.
Os dias passaram, as festas foram mudando de lugar, o curso foi terminando. Não lembro de ter ficado algum dia sem ir à Piazza del Campo, já que ela era nosso “Lugar de final de tarde” de todos os dias. Mas um belo dia ao ir me despedir daquele que foi meu quintal de casa por um mês, surpresa!! Estava tudo mudado. O que antes via caminho de pedras envolta da praça, agora já era uma estrada de terra. O que eram lojinhas ao redor do caminho, agora já eram arquibancadas. Que susto! Que lindo! Que emocionante! Que tristeza, pois não estaria ali naquele mesmo lugar naquele dia tão especial.
Não, não tenho remorsos em não ter tentado ficar mais alguns dias. Vivi momentos incríveis participando desses detalhes, dessas mudanças, dessas histórias. Um dia, aí sim, ainda voltarei e verei enfim minha Nicchio ganhar, mas ao vivo. Lá no meio da multidão. E alegre e feliz cantar com todos da contrada aquela que me cativou o coração.
Esse texto dá até dor no peito de tanta saudade da minha amada Siena e dos meus períodos de bolsa! Os dois verões mais incríveis da minha vida, os dois meses mais belos dentre todos, sem a menor sombra de dúvida! E sobre o primeiro parágrafo, parabéns, minha amiga querida!