Flavia Sbragia – Travel Designer

Travel Designer especialista em viagens personalizadas e experienciais para a Região da Toscana.

Per non dimenticare

Per non dimenticare, para não esquecer para que possamos lutar para que não volte a acontecer onde for. Neste post iremos começar a falar sobre a barbárie que aconteceu no pequeno vilarejo de Sant’Anna di Stazzema. Um dos crimes mais atrozes cometidos contra civis.

Muitos não conhecem o lugar, e muito menos sua História. Ouvimos sobre a Segunda Guerra, Nazismo e Fascismo, bombas, extermínios. Vários outros lugares e povos, com histórias completamente devastadoras, mas e Sant’Anna? Onde e porquê ela está no meio de tudo isso? Quem fala sobre ela? O que realmente aconteceu por lá?

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Foto do site oficial de Sant’Anna di Stazzema

Segunda Guerra Mundial, 1 de agosto de 1944. Sant’Anna di Stazzema foi qualificada pelo comando alemão como “Zona Branca”, ou seja, lugar adequado às pessoas que não estavam aptas a combaterem na guerra, como crianças, mulheres, idosos, doentes, etc. Por causa disso, várias famílias foram abrigar-se naquela localidade. Outra situação aparentemente favorável era que as cidades ao seu entorno já estavam há vários dias sem realizar operações militares.

No entanto, na madrugada de 12 de agosto de 1944 três tropas da SS (Schutzstaffel), o exercito nazista, subiram a Sant’Anna pelas cidades de Vallechia – Solaio, Ryosina, Mulina di Stazzema, enquanto uma quarta fechava todas as vias de evacuação para o vale, acima da Vila de Valdicastello.

Essa invasão apenas conseguiu ser feita pois os nazistas tiveram a colaboração de fascistas moradores da região no entorno de Sant’Anna. Isso porque o acesso ao borgo era muito difícil. Para chegar lá era preciso passar pelas antigas trilhas de mulas de Valdicastello (Pietrasanta) e pelo lado de Stazzema era preciso uma marcha longa, dificil e cansativa com ao menos duas horas de duração. Foi por essa característica que fez com que milhares de pessoas se deslocassem para o local no verão de 1944, para alcançar esses lugares praticamente inacessíveis.

Às 7 horas da manhã o borgo já estava cercado. Homens da aldeia correram para a floresta tentando refugio na floresta para evitar serem deportados, enquanto que mulheres, crianças e idosos, confiantes de que nada iria acontecer com eles como civis, permaneceram em suas casas.

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Foto do site oficial de Sant’Anna di Stazzema

Em pouco mais de 3 horas 560 inocentes foram brutalmente mortos. Enquanto algumas pessoas foram atacadas por metralhadoras e granadas em suas casas, outras foram brutalmente arrancadas dos seus lares e colocadas na praça, na porta da igreja da cidade formando um grande aglomerado em um espaço de não mais que vinte metros de comprimento, onde foram metralhadas à queima roupa. Tão perto que os soldados podiam ver o horror nos olhos das pessoas. Após o fuzilamento, amontoaram os corpos, alguns até ainda poderiam ter vida, nos bancos da pequena igreja, a fecharam e fizeram uma especie de forno, utilizando os colchões das casas, queimando todos por ali. Insatisfeitos com a consumação dos corpos, ainda empurraram homens e mulheres ainda vivos, que sem reação ao vivenciar tudo aquilo, entraram no braseiro.

Os cadáveres na praça da Igreja eram 132, incluindo 32 crianças. Outros 8 corpos estavam atras do campanário, aparentemente, eram das pessoas que os nazistas capturaram para ajudar a levar a munição.

Todas as casas foram incendiadas. Casas e toda a vida que ainda tinha por lá. Pessoas, animais, tudo. Ao retornarem para as terras baixas, também foram deixando rastros de destruição incendiando tudo e todos que encontravam pelo caminho. Pessoas escondidas em buracos nas pedras foram queimadas por lança- chamas. Uma mulher que corria em desespero com seu bebê nos braços foi capturada.Tiraram a criança de seus braços jogando -a no chão e fizeram a mãe atirar contra seu bem mais precioso matando – o a queima roupa. Esses foram um dos vários episódios acontecidos na ocasião.

Poucos conseguiram fugir. E essa minoria foi a que alertou as cidades vizinhas. Aterrorizados mal conseguiam falar, e as pessoas atônitas entendiam que algo terrível tinha acabado de acontecer , mas não conseguiram imaginar as proporções.

No inicio da tarde os homens que retornavam de seus abrigos e outros poucos sobreviventes retornaram à aldeia. Resgataram os feridos, transportando-os para o hospital do campo de Valdicastello e enterraram os restos, muitos carbonizados, dos cadáveres em túmulos escavados nos jardins.

“A cena mais consternada foi a da praça da igreja: uma massa de cadáveres no centro, com a carne ainda quase frita; de um lado, o corpo de uma criança de cerca de três anos, consumido pelo fogo, com os braços rigidos e levantados como se pedissem ajuda, …, a igreja com o a porta bem aberta, mostrou um grande braseiro dentro, feito com bancos e móveis, e no ar o fedor da carne assada que elevava quase a respiração e se espalhava por todo o vale.” Lembra Don Giuseppe Evangelisti

O enterro desses corpos foi feito no dia 14. Cerca de 30 voluntários vieram de Culla. Era um trabalho bastante difícil e arriscado, especialmente por causa das grandes nuvens de moscas, cujas picadas poderiam ter causado infecções mortais. Não tinham máscaras, não possuiam desinfetantes. Apenas uma pequena garrafa de álcool e um pouco de algodão para cobrir os narizes.

 

Continua…

Per non dimenticare

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