Ferragosto, essa palavra aparece sempre que vamos definir o periodo de viagem para a Italia e alguns outros países europeus. “Fujam do Ferragosto” alguns dizem. Mas afinal porquê “fugir” dele? O que ele significa na Italia?
O mês de Agosto, na Italia, é o auge do verão. Assim como no Brasil quando chega dezembro, aquele calor que nos chama a ir à praia, festejar com amigos e familia e só pensamos em descansar e curtir a vida, também acontece isso por lá. É o periodo onde as pessoas tiram férias, onde tem o recessso escolar.
Muitos estabelecimentos comerciais, principalmente das cidades mais interioranas, fecham para férias. Como a maioria das pessoas resolvem ir às cidades litoraneas, todos os preços triplicam, ou seja, você encontra desde acomodações até comida e passeios com preços muito mais altos do que veria em meses diferentes. O “fugir” do Ferragosto nada mais é que fugir do periodo caro e onde muitas vezes queremos passear mais pela região e encontrarmos muitos lugares fechados (Chiuso per ferie), não importa se é turistico ou não. Mas nele também podemos desfrutar de uma autentica cultura italiana, participar de festas antigas que ainda hoje fazem parte do calendário italiano.
O nome Ferragosto vem do latim “Feriae Augusti” (Descanso, Ferias de Augusto), em homenagem ao primeiro imperador romano Ottaviano Augusto. Esta é uma festa foi instituída pelo próprio imperador no século 18a.C. e era comemorada no primeiro dia de agosto e se extendida por todo o mês, chamando-se Augustali.
A tradição celebrava o fim dos trabalhos agrícolas e as colheitas do período. Os trabalhadores desejavam felicidades e boa sorte aos seus empregadores e em troca recebiam comida ou dinheiro. Durante as festividades eram organizadas corridas de cavalos e os trabalhos eram suspensos devido as comemorações. Os animais de tração também recebiam descanso, e nesse periodo eram adornados com flores para as festas. Essa festa foi incluida à outras festividades pagãs já existentes na época, como a Vinalia Rustica ou Consualia, em homenagem ao deus da agricultura Conso.
Mas alguns séculos depois, com o advento do cristianismo, a Igreja Católica, querendo suprimir a festa pagã, resolveu transferir o feriado para dia 15 de agosto, coincidindo com a Festa da Asssunção de Maria. Dogma onde Nossa Senhora foi elevada ao céu no momento de sua morte, tanto a alma quanto o corpo. Por esse motivo ainda hoje vemos festas antigas religiosas, tal qual o Palio de Siena (Toscana) de 16 de agosto, o Palio dell’Assunta, uma extraordinária corrida de cavalos que ocorre na praça principal da cidade, a Piazza del Campo, e a procissão em Messina (Sicilia) chamada Vara e Giganti. E também há a tradicional Giostra del Saracino na vila de Sarteano (Toscana), em 15 de agosto. Esta competição evoca o antigo jogo equestre com a luta dos cavaleiros contra os saqueadores árabes.
Assim como o Ano Novo no Brasil, onde vemos festas, queimas de fogos, é comum os italianos se reunirem na praia, comerem, festejarem, fazerem um grande luau com música ao vivo e tomarem um banho de mar na virada do dia 14 para o dia 15 com sentido de renovação, purificação e terem uma queima de fogos à meia noite. A festa só temina ao amanhecer do dia 15.
Mas nem sempre o Ferragosto foi sinonimo de viagem. Foi durante o Fascismo, que as familias italianas com menos poder aquisitivo, puderam ter a oportunidade de viajar para fora da cidade, conhecer outros lugares e visitar a familia em outra localidade. Eles passavam 3 dias fora e iam a lugares que durante o ano não teriam condições de ir visitar.
Entre 1931 e 1939, Mussolini criou os trens populares, chamados de “Trens de Ferragosto”. Durante os dias 13, 14 e 15 eram dados descontos especiais para viajar para determinadas cidades italianas, fazendo assim um incentivo ao turismo de massa dentro do próprio país. Foi assim que muitas familias que moravam no interior do país puderam ter a oportunidade de conhecer o mar pela primeira vez. Talvez por isso, ainda hoje em diam as cidades litorâneas são os locais mais procurados pelos italianos nessa época do ano.
É dessa época, também, que os piqueniques ficaram tão recorrentes em agosto. Como a iniciativa dos trens populares não incluiam comida, as pessoas mais pobres faziam e levavam consigo o que iriam comer durante a viagem, os chamaodos pranzo al sacco como dizem os italianos. Já os churrascos foram incorporados aos festejos logo depois da Guerra, quando as condições financeiras começaram a melhorar e algumas familias italianas puderam se dar ao luxo de incluir a carne ao seu menu de festas. Por isso muitos italianos gostam de fazer churasco ao ar livre, onde reunem amigos e parentes para uma gostosa confraternização.
Então podemos dizer que, hoje em dia, o Ferragosto faz parte da vida do Italiano quanto já fazia nos tempos antigos. É um mês muito esperado e mesmo tendo um cunho religioso, a ideia de descanso vinda da época dos romanos ainda é bem marcante. Agosto é um mês solar na Italia e nada mais gostoso do que descansar tendo a companhia de quem gostamos aproveitando cada dia com muita alegria.
E por mais que digam para evitar ir à Italia nesse periodo, nada como um bom planejamento de viagem feito com antecedencia para podemos incluir e desfrutar com segurança esse mês de tanta culltura e encanto.
0 pensou em “Viva o Ferragosto”